domingo, 21 de julho de 2019

“Uma retomada do crescimento sustentável passa pelo aumento da produtividade”, aponta Ana Maria Castelo

Aumentar a produtividade é um dos maiores desafios da construção brasileira. Por conta dos últimos anos, que foram de recessão econômica e de resultados negativos para o setor, a baixa produtividade deixou de ter destaque nas prioridades das construtoras. Porém, o período de grande crescimento, entre 2011 e 2012, conscientizou esse público da necessidade de se buscar alternativas para aumentar a produtividade e o tema hoje faz parte da agenda setorial da construção.

O Mapa da Obra conversou com a coordenadora de projetos da construção do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), Ana Maria Castelo, que é responsável por diversos estudos relacionados à produtividade do setor para entender como o tema está sendo tratado agora e quais as barreiras que as construtoras devem enfrentar para crescer.

 

Confira a entrevista sobre produtividade:

 

Mapa da Obra – Quando a produtividade da mão de obra da construção civil se tornou importante para o setor?

Ana Maria Castelo – Essa questão da produtividade entrou no radar das empresas do setor em torno de 2011 a 2012 quando o setor vivia o pico do seu crescimento. As empresas sentiram as dificuldades relacionadas a esse crescimento porque faltou mão de obra qualificada e os custos aumentaram muito. Isso realmente acendeu uma luz amarela no setor e muitas companhias começaram a pensar em produtividade. Em um dos estudos que produzimos, comparamos a produtividade na construção sob várias perspectivas, sendo uma delas, a comparação com outros países. Confirmamos o que imaginávamos: a defasagem que existe na produtividade com relação aos outros países. Com isso, identificamos um duplo gap: uma produtividade mais baixa do setor comparado às outras atividades no Brasil e uma produtividade também mais baixa do setor quando comparado com a construção em outros países.

 

MDO – E quais são as barreiras para o aumento dessa produtividade?

Ana Maria Castelo – Uma questão que é muito levantada é a própria qualificação da mão de obra, mas isso em si não responde por todos os problemas que temos. Existem muitos países, como a China e a Índia, em que a produtividade do trabalhador cresceu muito e se tem problemas de qualificação da mão de obra também. Há outras duas questões importantes que estão relacionadas à gestão e aos métodos dos processos construtivos utilizados.

 

MDO – E quando se trata dessa modernização dos métodos construtivos, quais as barreiras que existem?

Ana Maria Castelo – Fizemos um estudo que identificou justamente essas dificuldades da modernização no setor da construção. Uma dessas barreiras diz respeito ao desestímulo à modernização que a tributação representa. Industrializar o processo produtivo na construção tem um custo significativo. Em um dos estudos que fizemos, por exemplo, comparamos uma construção feita em alvenaria utilizando métodos tradicionais e outra com concreto pré-fabricado.  Nós constatamos que a diferença significativa se dá, apesar da produtividade muito mais alta da construção em concreto pré-fabricado, por conta do ICMS cobrado da produção fabril. Esse custo encarecia a construção e isso representava um empecilho.

 

MDO – E como está essa discussão agora em 2019?

Ana Maria Castelo – De 2013 pra cá o cenário mudou drasticamente na construção. Depois de um crescimento entre 2007 e 2013, ingressamos em um ciclo de retração – foram cinco anos de queda, considerando até 2018 – com queda de 28% do PIB e mais de 1 milhão de pessoas demitidas (empregados com carteira de trabalho assinada). Isso acabou gerando uma melhora da produtividade, mas uma melhora perversa, porque estamos falando que a produtividade cresceu porque pessoas foram demitidas. Então, fica difícil analisarmos o que aconteceu com a produtividade. Agora, de fato, a gente sabe que muitas empresas passaram a valorizar mais essa discussão. As próprias entidades setoriais passaram a introduzir essa discussão nos itens fundamentais da agenda de crescimento setorial. Então, se pensarmos em uma retomada do crescimento sustentável, ela passa pela questão da produtividade.

 

MDO – Nos últimos anos também vimos o aumento do número de startups voltadas para desenvolvimento de soluções para a construção civil, as chamadas construtechs. Elas podem colaborar para o aumento da produtividade?

Ana Maria Castelo – Indiscutivelmente, a inserção das construtechs no setor contribui para a produtividade. O problema não é o acesso à oferta da tecnologia, essas construtechs já surgiram justamente em função do ambiente mais propício para essa discussão. Sabe-se que para correr atrás desse gap que falamos no início, o setor tem que melhorar a sua produtividade com soluções inovadoras, seja de material, seja de processo produtivo e da questão da gestão. Há diversas soluções que estão sendo discutidas e que de certa forma estão disponíveis, mas os problemas para essa implantação envolvem desde a questão de financiamento até a questão do desestímulo do processo de tributação. Hoje o desestímulo maior está dado pela própria conjuntura setorial e macroeconômica. É difícil a gente imaginar uma melhora de produtividade com essas incertezas.

 

Quer saber mais sobre produtividade em canteiro de obras? Confira:

https://www.mapadaobra.com.br/gestao/produtividade-no-canteiro/

 

 

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