Base da Marinha do Brasil no continente antártico, a Estação Comandante Ferraz é um conjunto de edificações recém-inauguradas para substituir as instalações de pesquisa perdidas após um incêndio em 2012.
Com 4,5 mil m² construídos, o local conta com 17 laboratórios e tem estrutura para hospedar até 64 pessoas, além de equipamentos para a realização de estudos nas áreas de biologia, oceanografia, glaciologia, meteorologia e paleontologia.
Situada na Ilha Rei George, a base foi erguida após a superação de uma série de desafios. O maior deles foi viabilizar a execução em um local de clima tão inóspito, com ventos superiores a 200 km/h, temperaturas baixíssimas, solos congelados e sismos.
Por tudo isso, o planejamento previu a realização dos serviços somente durante o verão antártico, entre os meses de outubro e abril. Foram necessários quase quatro anos de trabalhos, incluindo tempo de comissionamento e teste de sistemas.
Adoção de estratégias especiais
A nova estação se organiza em três blocos principais. O leste abriga os laboratórios, além de refeitórios, cozinha, sala de enfermagem e oficinas. O oeste possui 32 quartos de alojamento, biblioteca, ginásio e um pequeno auditório. Há, ainda, um bloco técnico onde estão geradores, quadros elétricos, caldeiras, estação de tratamento de água e esgoto, incinerador, entre outras instalações.
A severidade climática exigiu a adoção de estratégias especiais para garantir o conforto térmico aos edifícios. Desenvolvido pelo Estúdio 41, o projeto de arquitetura previu um afastamento entre a construção principal e o solo por meio de pilotis de aproximadamente 2,5 m. Tal cuidado ajudou a minimizar a perda de calor para o meio ambiente.
“Em um ambiente como o Antártico, a entrada de ar frio é uma das principais fontes de desperdício de energia. Daí a importância de assegurar máxima estanqueidade à edificação”, explica Guido Petinelli, CEO da Petinelli, empresa que prestou consultoria na definição do conceito e na proposição das soluções sustentáveis para a base brasileira.
Para a envoltória externa, o projeto previu a instalação de duas camadas de proteção térmica, além de uma camada isolante exterior de 220 mm de espessura. Entre as duas camadas há um espaço vazio que funciona como um buffer cuja temperatura é mantida a cerca de 10ºC. Como a perda de calor costuma se dar majoritariamente por portas e janelas, o projeto também buscou trabalhar com aberturas limitadas ao mínimo necessário para o conforto dos ocupantes.
Implantação de sistemas renováveis
Além do controle de perdas térmicas, a concepção da base brasileira buscou minimizar a agressão ao meio ambiente em função de sua construção e operação. Por isso, conta com um sistema de esgotamento sanitário que separa as águas cinza das águas negras, permitindo a reutilização de parte dos fluídos após o tratamento. A água potável utilizada na estação é fornecida por dois lagos de degelo, capazes de atender a uma população máxima de 64 pessoas no verão e de 35 pessoas no inverno.
Além disso, a estação de pesquisa conta com um sistema de geração de energia renovável capaz de suprir até 30% do seu consumo. Para tirar proveito dos fortes ventos do continente gelado, foram instalados oito aerogeradores com capacidade de 6 kWp cada. Também foram inseridos trinta módulos fotovoltaicos de 285 Wp que irão captar energia principalmente no verão, quando o sol brilha mais de 20 horas.
Outra ação com impacto positivo foi a implantação de um sistema de condutores que aproveita o calor produzido pelos geradores de energia para aquecer a estação. De simples execução, a medida permitiu eliminar a utilização de diesel para alimentação do sistema de climatização, reduzindo a emissão de poluentes na atmosfera.
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