quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Como a densidade do concreto interfere na construção

Por Nathalia Lopes

 

A diversidade das obras influencia diretamente no tipo de material de construção que será escolhido para a obra. Isso porque, fatores como resistência, custo-benefício e localização, impactam diretamente nas necessidades da edificação. Logo, uma obra realizada em uma região litorânea, com solo arenoso, demandará uma fundação diferente de uma obra localizada em uma região central, com solo mais rígido e presença de rochas, por exemplo.

Neste âmbito, um aspecto decisivo na escolha de materiais é a densidade, que nada mais é do que a massa específica de cada material. Ela pode torná-lo adequado ou inutilizável, de acordo com o tipo de obra, principalmente, no caso de concretos e cimentos.

“Com relação ao concreto, que é um compósito que usa cimento Portland como ligante, é possível ter variações expressivas em sua massa específica, principalmente em função do tipo de agregado utilizado em sua composição”, explica a engenheira Inês Laranjeira, membro do Comitê Brasileiro de Cimento Concreto e Agregado e Superintendente do ABNT/CB-18.

De acordo com a ABNT NBR 8953:2015 – Concreto para fins estruturais, são considerados de massa específica normal, os concretos que apresentam densidade entre 2.000 kg/m³ e 2.800 kg/m³. “Abaixo dessa faixa estão os concretos leves, e acima dela, os concretos ditos densos ou pesados”, explica Inês.

Para chegar ao valor da densidade é feito o seguinte cálculo: divisão da massa de uma determinada porção do material por seu volume. Para descobrir o valor da massa específica do concreto no estado endurecido, basta consultar a ABNT NBR 9778: 2009 – Argamassas e concreto endurecidos – Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica.

Concreto leve: como chegar a sua densidade

O leve atinge tal densidade com a substituição de agregados convencionais por agregados mais leves, como argila ou adição de bolhas de ar, por exemplo.

Segundo João Adriano Rossignolo, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA/USP) e autor do livro Concreto Leve Estrutural (Editora Pini), em entrevista recente para o Mapa da Obra, esse concreto com ar incorporado não é interessante como elemento estrutural porque não protege a armadura do aço. Entretanto, em contrapartida, como ele tem menos massa específica, solicita menos a estrutura e adequa-se para enchimento e vedação.

“O concreto leve pode ser utilizado em outras situações onde necessita minimizar as trocas de temperatura entre dois ambientes, como na construção de paredes de vedação em construções habitacionais”, esclarece a engenheira. Essa forma de utilização atende as exigências dos usuários com relação ao que está estabelecido na ABNT NBR 15575 – Edifícios habitacionais – Desempenho.

Como o concreto leve também é muito eficiente como barreira térmica, ele é aplicado com frequência sobre lajes de concreto convencional para evitar danos devidos à variação da temperatura. Segundo Inês, com isso é possível diminuir significativamente os processos de dilatação e retratação sofridos por estruturas expostas ao tempo. “Sol direto, chuva e outras ações ambientais podem provocar variações de temperatura diárias que, incidindo em uma laje, por exemplo, levam a quadros de fissuração e consequente degradação”, completa.

No entanto, em termos de capacidade estrutural, os concretos com densidade normal (acima de 2000 kg/m3) são os mais utilizados, por apresentarem propriedades de resistência e módulo de elasticidade melhores do que os concretos leves.

Para consulta de densidades de cada tipo de concreto, Inês indica a ABNT NBR 8953:2015 – Concreto – Classificação específica e por grupos de resistência e consistência e a ABNT NBR 6120:2019 – Ações para o cálculo de estruturas de edificações que podem ser vistas no respectivo site.

Para um rápido esclarecimento, elaboramos a tabela abaixo, contendo alguns tipos de cimento e concreto utilizados com frequência na construção civil nacional:

 

cimento-concreto

 

Confira uma tabela completa de densidades

 

Materiais Soltos:

MATERIAL kg/m3
AREIA SECA 1300 a 1600
AREIA ÚMIDA 1700 a 2300
AREIA FINA SECA 1500
AREIA GROSSA SECA 1800
ARGILA SECA 1600 a 1800
ARGILA ÚMIDA 1800 a 2100
CAL HIDRATADA 1600 A 1800
CAL HIDRÁULICA 700
CAL EM PÓ 1000
CAL VIRGEM 1400 a 1600
CIMENTO A GRANEL 1400 a 1600
CIMENTO EM SACOS 1200
GESSO EM PÓ 1400
GESSO HIDRATADO (EM BLOCO) 1800 a 2600
MINÉRIO DE FERRO 2800
TERRA APILOADA SECA 1000 a 1600
TERRA APILOADA ÚMIDA 1600 a 2000
TERRA ARENOSA 1700
TERRA VEGETAL SECA 1200 a 1300
TERRA VEGETAL ÚMIDA 1600 a 1800
ENTULHO DE OBRAS 1500

 

Blocos artificiais

 

MATERIAL kg/m3
BLOCO DE ARGAMASSA 2200
CIMENTO PARA PISOS 2200 a 2300
CIMENTO-AMIANTO 1900
LAJOTAS CERÂMICAS 1800 a 2000
TIJOLO FURADO 1100 a 1400
TIJOLO MACIÇO 1800 A 2000
TIJOLO SÍLICO-CALCÁREO 1900 a 2200
TIJOLO POROSO 1000 a 1100
TIJOLO VITRIFICADO 1900

 

Revestimentos de concreto

MATERIAL kg/m3
ARGAMASSA CAL HIDRÁULICA 2000 A 2200
ARGAMASSA CIMENTO/CAL/AREIA 1900
ARGAMASSA CIMENTO/AREIA 2100
ARGAMASSA DE GESSO/ESTUQUE 1400
ARGAMASSA DE CAL E AREIA 1700
CONCRETO SIMPLES 2400
CONCRETO ARMADO 2500
CONCRETO DE ARGILA EXPANDIDA 2000
ESTUQUE DE ARGAMASSA DE CIMENTO 2000
ESTUQUE DE ARGAMASSA DE CAL 1700

 

Metais

MATERIAL kg/m3
AÇO 7800
ALUMÍNIO 2600
BRONZE 8500
CHUMBO 11300
COBRE 8900
ESTANHO 7400
FERRO FORJADO 7900
FERRO FUNDIDO 7400
LATÃO 8500
ZINCO 7200

 

Madeira

MATERIAL kg/m3
MADEIRAS LEVES (CEDRO, JEQUITIBÁ, PINHO ARAUCÁRIA, PINHO DE RIPA E PINUS HELIOTIS) ATÉ 600
MADEIRAS DE DUREZA MÉDIA   (CANELA, CEREJEIRA, EUCALIPTO, FREIJÓ, IMBUIA, LOURO, PEROBA DO CAMPO, PAU MARFIM E VINHÁTICO) 600 a 750
MADEIRAS DURAS PARA ESTRUTURAS OU EXPOSIÇÃO ÀS INTEMPÉRIES (ANGICO-VERMELHO, BRANCO E PRETO, BATINGA, BRAÚNA, CABRIUVA, CARVALHO, GUAJUVIRÁ, IPÊ AMARELO, JACARANDÁ, MAÇARANDUBA, MOGNO, PEROBA ROSA, ROXINHO E SUCUPIRA) ACIMA DE 750

 

Materiais diversos

MATERIAL kg/m3
ALCATRÃO 1200
ÁLCOOL 800
ASFALTO 1600 a 2000
BORRACHA PARA JUNTAS 1700
CARVÃO MINERAL EM PÓ 700
CARVÃO EM PEDRA 1600 a 1900
CARVÃO VEGETAL 400
CIMENTO EM PÓ 1100 a 1700
CLINKER DE CIMENTO 1500
CORTIÇA AGLOMERADA 400
CORTIÇA NATURAL 240
ESCÓRIA DE ALTO-FORNO 2200
LENHA 500
PAPEL 1400 a 1600
PLÁSTICO EM CHAPAS E CANOS 2100
PORCELANAS 2200
RESINAS 1000
TURFA 300 a 600
VIDRO 2400 a 2600

 

 

Rochas e materiais rochosos e fragmentados

 

MATERIAL kg/m3
ARDÓSIA 2600 a 2700
AREIA QUARTZOSA SECA 1700
AREIA QUARTZOSA ÚMIDA 1800 a 2000
ARENITO 2100 a 2300
BASALTO 1700
BRITA BASÁLTICA 1700
BRITA CALCÁREA OU ARENÁRIA 1600
BRITA GRANÍTICA 1800
CALCÁREO COMPACTO 1800 a 2600
CALCÁREO LEVE 1600
CASCALHO DE ROCHA SECO 1500
CASCALHO DE ROCHA ÚMIDO 1800 A 2000
GNAISSE 2600
GRANITO 2600 a 3000
MÁRMORE 2500 a 2800
PEDRA SABÃO 2700
ROCHA MARROADA 1600 a 1700
SEIXO ARENOSO 1600
SEIXO DE PEDRA-POME 1600

 

Tabela extraída da página: http://www.operaction.com.br/densidade-dos-materiais

 

O Papo Construtivo esteve em uma casa eficiente que utilizou como estratégia de vedação blocos de concreto celular, que são mais leves. Confira: https://www.mapadaobra.com.br/papoconstrutivo/casa-eficiente/

 

 

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